terça-feira, 15 de julho de 2014

Para alguém como eu

São 00h52m. Estou sentado na cama com o computador sobre as pernas. Já abri um separador no navegador para poder ver um episódio da minha série favorita, mas é inevitável não pensar na vida e na forma injusta em que ela corre. ''A vida não é justa'', dizem eles, e parecem conformados com a situação. Como? - pergunto eu. Desde que nascemos até ao dia em que morremos não temos palavra naquilo que a vida define como sendo o destino. E que sina esta, a minha. Nascer desajustado, como se tivesse um braço a mais ou dedos a menos; como se aquilo que aspiro para mim mesmo fosse demasiado para alcançar, ou como se não conseguisse tocar a meta que todos atingem. Nunca fui pessoa para tristezas ou lamentações. Sou sim demasiado tolerante para com o que me envolve. Chego a pensar ter dois corações... São estes os pensamentos que toda a gente costuma ter no meio do silêncio da noite, ou estou assim tão desajustado?
Consigo ouvir a cigarra a cantar lá fora. Feliz dela. Ela, que canta por cantar. Quem sabe se não será um cantar triste, por a vida lhe dar tal destino. Cantar... Ah, quem me dera cantar.
Se alguma vez pudesse escrever uma carta para alguém como eu, acho que não o faria. Provavelmente já teria aprendido a viver com o seu destino... Questiono-me se da mesma maneira que eu - a rejeitar a injustiça da vida quando todos parecem aceitá-la; a olhar o todo e o tudo com olhos diferentes; e a saber distinguir algo que não é justo de algo injusto. Nem sei o que faço, quando faço ou porque faço, simplesmente faço. Porque já é como um instinto que não controlo, como um mau hábito que não sei evitar ou uma mania que não apercebo.
Sinto-me uma cigarra, mas ao invés de cantar, choro. Choro porque fui talhado assim, sem ninguém me perguntar se queria. Choro porque é injusto e nunca ninguém me vai pedir opinião para a minha vida. Nem mesmo ela.
Não desejo sina igual a ninguém. Viver dentro de uma caixa escura prende-me a respiração.

É de noite, e a cigarra canta lá fora. Quem sabe se canta, se chora.

A vida é minha, mas o destino tomou-a de mim.
Quando a terei de volta?
Um dia, talvez